sábado, 30 de maio de 2009

Tecnologias alteram comportamentos?

Surgiu hoje uma discussão algo interessante e que, infelizmente, por motivos óbvios não podia naquele contexto ser alargada. Por esse motivo atiro aqui algumas considerações que me parecem relevantes para a discussão deste tema.

Penso que a tecnologia, ao contrário do que é ideia comum, veio aproximar muito mais as pessoas. Quer queiramos quer não a realidade da natureza humana impede-nos de filtrar aquilo que parecemos ficando apenas e só com "aquilo que somos". A sociedade evoluiu negativamente no sentido individualista, mas também num sentido falsamente perfeccionista. As pessoas têm de possuir determinadas características para serem bem sucedidas. As novas tecnologias dão a cada um, na sua individualidade, a possibilidade de serem quem querem ser e não quem os outros percebem que eles são. O indivíduo existe no modo como quer existir e não apenas no modo como os outros o percebem condicionados pela informação limitada do contacto pessoal. Parece contra-senso?  O contacto com as pessoas gera todo o tipo de preconceitos que não se verificam nos novos meios de contacto. Podemos procurar pessoas de acordo com os nossos interesses. Se procuramos alguém com os mesmos gostos musicais, com a mesma ideologia política ou simplesmente se queremos manter um contacto diferente com os nossos amigos e colegas transmitindo-lhes a imagem que queremos ver transmitida, certamente que o sucesso comunicacional será superior assim como a nossa percepção e satisfação com o resultado produzido. As pessoas que têm tendência a serem descriminadas encontram uma forma de se mostrar ao mundo não como eles são aos olhos de quem as vê mas como se querem mostrar. Não interessa se é verdadeiro ou falso. Se alguém considera a beleza física a coisa mais importante da vida e nasceu sem ser atingido pela sorte de a possuir poderá mostrar-se como assim o entenda e atrair para si todas as pessoas que valorizam exactamente a mesma coisa. E isso não é negativo, muito pelo contrário. O que é negativo é as pessoas valorizarem as coisas erradas. Mas essa é outra questão que o individualismo como ideologia fundamentalista propagou e demasiado complexa para analisar em tão limitado espaço.

Podemos fazer um pequeno exercício mental de nos recordarmos de como se processam as trocas de presentes na época natalícia, como se processavam as trocas de cartas, de cumprimentos, de rituais sociais decrépitos e hipócritas que podem hoje ser simplesmente eliminados das nossas vidas com um bloqueio, com um “delete” cirúrgico. Não temos que dar porque recebemos. Não temos de responder porque alguém se lembrou de reenviar uma mensagem enviada a quinhentos outros indivíduos a dizer exactamente as mesmas balelas. Temos a liberdade e o à vontade para criar o círculo de pessoas que realmente nos interessam no mundo virtual que se torna, afinal, o mundo real. E toda essa plataforma tecnológica não eliminou, antes pelo contrário, potenciou a vida social dos indivíduos. As noites continuam povoadas. Não se gerou um exército de zombies agarrados a teclados e telemóveis. Os bares e as discotecas estão cheios. Os concertos, os cinemas e os teatros continuam a somar e a facturar. A alteração comportamental está precisamente na facilidade de aplicação dos filtros sociais que nos fazem eliminar todo o lixo que nos rodeia. Mas mais importante de tudo, vem dar a muitos tipos de excluídos o potencial de integração real ou virtual. Um coxo, um zarolho, um gago, um perneta, é virtualmente quem quer ser, quem quer efectivamente mostrar e nenhuma forma de descriminação é produzida excepto quando é suposto o indivíduo querer ser descriminado.

Daí se explica o sucesso de projectos como o Second Life onde o indivíduo é aquilo que realmente quer ser e não aquilo que os condicionalismos diversos o obrigam a ser na vida real. As formas de socialização virtual (redes sociais como o Hi5) ou de complemento tecnológico comunicacional (as SMS, MMS ou instant messaging), aproximam as pessoas e criam menos hipóteses a equívocos. Claro que as mensagens podem utilizadas de forma abusiva ou então de forma indiscriminada mas elas dizem-nos muito sobre o seu autor ou a sua autora. Não é de todo verdadeiro que não existam relações de amizade criadas em ambientes virtuais e os cuidados e ter no mundo virtual são de longe menos exigentes que os cuidados a ter com as pessoas no mundo real.

Se as tecnologias trouxeram alterações de comportamentos não se pode considerar que nos tornámos melhores ou piores pessoas por sua causa directa ou indirecta. O problema é que em paralelo existiram alterações profundas nas sociedades que passaram a centrar-se no indivíduo e a negar a si mesmas o direito de intervir positivamente sobre este. Curiosamente o uso das tecnologias é frequentemente para contrariar este determinismo social. A vida mostra-nos uma realidade dura. Nascemos, vivemos e morremos sós. O nosso ponto mais importante de contacto com as pessoas, o contacto real e efectivo com o outro que nós queremos ver mostrando o “eu” que queremos ser, está precisamente nestas novas formas complementares de comunicação. O mesmo é dizer que a alteração comportamental é positiva porque nos afasta mais da máscara e nos aproxima mais da realidade da individualidade de cada um dos que escolhemos para existirem nas nossas vidas.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Charles Darwin

Caros colegas, no dia 17-05-2009 decorreu a tão badalada viagem a Lisboa para visitar a exposição comemorativa dos 200 anos de nascimento de Darwin e os 150 anos da edição do livro "A origem das espécies".
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Devo confessar que embora tenha sido uma exposição bastante interessante, estava à espera de mais, acho que um vulto tão grande como Charles Darwin merecia uma exposição mais aprofundada e elaborada, no entanto valeu a pena a viagem, mas fica a ressalva, podia ser melhor.
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Mas o que eu quero falar é dos colegas, simplesmente fantástico, antes de mais os parabéns vão para o Rogério, o grande animador da viagem com a sua guitarra (viola), e com a sua boa disposição que nos contagiou e quase obrigou a cantar durante a curta viagem (pareceu curta devido á animação mas a ida foram quase 4 horas), depois todos estiveram quase ao mesmo nível, quer os colegas de Psicologia quer os de Recursos Humanos, e não menos importante o António do 2º ano (ASAE), e a Maria, (psicologia e aluna de Turismo), e um destaque especial para a Dra. Júlia Valério que foi um exemplo de boa disposição e animação, A Dra. Cláudia, relutante em cantar mas apreciadora do chocolate que envolvia a ginginha.
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E o José Carlos...! esteve no seu melhor, o Jorge continua a brilhar e a encantar, quanto à Eunice e à Armandina só há uma palavra "fantásticas", ou duas... "fabulosas".
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Peço desculpa por não mencionar outros colegas mas como este blog é de RH, espero que não fiquem melindrados!
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Para quem não foi, não desesperem, temos que marcar uma nova actividade quando acabar a época de exames, e já tenho algumas ideias e várias propostas, mas espero que todos façam sugestões!
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Um bom final de semestre para todos!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

terça-feira, 12 de maio de 2009

Sobre o teste de Economia só um comentário...

... sem comentários!!!

sábado, 2 de maio de 2009

A questão dos valores

“Substituir o valor do ateísmo pelo valor da religião, pressupõe romper com aquilo que era considerado como certo e bom e substituí-lo por algo que se apresenta como mais verdadeiro e desejável.”

In Manual de Psicossociologia das Organizações; Ferreira, J. M. Carvalho; Neves, José; Caetano, António; McGraw Hill, p.259



Nas nossas leituras por vezes esbarramos com ridicularias deste género e pensamos, como é possível alguém, com um nível cultural e educacional tão elevado escrever barbaridades deste género e publicá-las em livros científicos que são referência bibliográfica em cursos universitários. A continuarmos neste caminho de produção intelectual em breve estaremos a retirar conteúdos bem mais credíveis e verdadeiros da banda desenhada de Walt Disney.

Desde quando é que a religião em si é um valor? A religião pode conter dentro de si um conjunto de valores, mas não é um valor em si. Pior do que isso é ignorar que no ateísmo pode estar um conjunto de valores humanos bem mais importante do que o presente na religião. Basta compreendermos que o ateísmo não tem de gerir os seus valores pelo medo de poderes sobrenaturais. Não tem de se sustentar no medo de um além para identificar o mal e o bem. Um ateu e um religioso podem mesmo partilhar os mesmos valores e na mesmíssima proporção.

Mas o mais irónico desta afirmação é precisamente a elaboração mental necessária para podermos compreender onde poderia o valor religioso, se tal coisa existisse, ser “mais verdadeiro e desejável”. A religião, essa coisa tão concreta e tão palpável cheia de certezas e evidências baseada na ideia que existem criaturas algures no além que nos criaram e nos controlam (excepto quando se esquecem) é apresentada como mais desejável perante os valores do ateísmo. Quer dizer que o ser humano sem a fantasia da existência de deuses torna-se ainda mais cruel. Mas o que a História nos ensina é que as maiores crueldades foram sempre cometidas em nome de religiões, do deus x ou y, da conquista de clientela para esta ou aquela seita de seguidores de ilusões. Quero com isto dizer que os valores religiosos são hipócritas? Definitivamente não! Os valores da honestidade, do respeito, da igualdade, da felicidade, etc. são valores sérios e válidos na fantasia religiosa quanto são no ateísmo. Eles representam exactamente o mesmo. Cada indivíduo interpretá-los-á à sua forma e agirá de acordo com a sua consciência dos mesmos. Ou seja, o que acima é dito não passa de uma deturpação do conceito de valores e de propaganda da superioridade dos valores religiosos quando eles são exactamente iguais no ateu e no religioso.

Quanto ao “verdadeiro” nem é necessário alongar muito. As religiões são baseadas em crenças e não em factos. Não existem factos concretos e palpáveis que comprovem a existência de qualquer deus ou entidade semelhante. Todas as religiões têm atrás de si motivos sociopolíticos fortes e de todos os testemunhos deixados só sobram aqueles que mais convêm a quem prega as suas doutrinas. A História nega constantemente a religião. A ciência contraria todos os dias a religião. Deus é constantemente negado até por aqueles que mais dizem crer. São então os valores incutidos pelo medo do castigo no além mais desejáveis que os valores nascidos na simples ideia de que a humanidade existe por si e para si independentemente da existência de deus, do pai natal ou de extra-terrestres baixinhos e verdes que nos controlam?